sábado, 13 de setembro de 2014

Resenha - Príncipe da noite

Toda manhã, o psicanalista Gabriel se surpreende ao acordar: sempre encontra uma mulher diferente dormindo ao seu lado. Ele nunca se lembra do seu nome, nem da maneira como a conheceu. A única coisa que resta de suas aventuras noturnas é um lapso de memória. Mas esta noite tudo se repetirá: quando cruzar com uma bela mulher, na noite seguinte, perderá o controle de quem é, porque o seu outro “eu” é capaz de tudo para satisfazer seus desejos mais primitivos. Mantendo esse segredo somente para si, Gabriel leva uma vida aparentemente normal na grande Londres, ouvindo diariamente os problemas de seus pacientes, enquanto tenta fugir das loucuras de sua ex-namorada. Mas nada é verdadeiramente normal para um homem que pode ser controlado pelo Príncipe da Noite...

O psicanalista Gabriel vive sua vida aparentemente normal em Londres, mas guarda um grande segredo: ele frequentemente acorda ao lado de mulheres que não conhece e não consegue se lembrar como foi parar ali.

Dominado por um “eu” misterioso e desconhecido, Gabriel tenta seguir com a sua vida, mas o Príncipe da Noite que toma conta de seu ser à noite parece não querer isso. Sem nem mesmo se entender, ele ainda precisa lidar com os problemas de seus pacientes e todas as (várias) mulheres de sua vida.



Fiquei encantada por esse livro desde a primeira vez que o vi. No entanto, esse encantamento desapareceu quando me peguei lendo a primeira página pela terceira vez para tentar encaixar aquilo em algum local da minha mente. Desisti e resolvi seguir em frente. Essa talvez tenha sido a minha melhor decisão.

A meu ver, o outro “eu” de Gabriel é uma metáfora bem construída de uma parte que todos temos e teimamos em tentar esconder. O Príncipe da Noite, como o próprio personagem o chama, é a personificação de nossos extintos, sentimentos e pensamentos; tudo aquilo que controlamos para os outros, mas que por dentro nos dominam e, por vezes, até nos controlam.

Foi incrível perceber pelos olhos de Gabriel como muitas vezes nos sabotamos por atribuirmos a nós culpas que não nos pertencem, mas como, ao mesmo tempo, culpamos e responsabilizamos os outros para que o peso não recaia sobre nós. Como somos inconstantes e complexos!

Com frequência, julgamos o que vivemos e o que pensamos e deixamos de nos sentir donos de nossas vidas. Nossos extintos são fortes e por vezes até irrefreáveis e, por isso, podemos acabar nos afastando de nós mesmos e, quando isso ocorre, é difícil retornar ao ponto em que paramos.

Sinto-me conflitante com relação a esse livro. A excelente ideia de Germano teve sua execução falha em alguns pontos. Mais de metade do livro serviu como ambientação para a vida de Gabriel. Me cansou não estar entendendo todos os pontos que eram abertos e que eu não tinha como saber se poderiam e/ou se iriam ser fechados. Continuei lendo e me surpreendi na segunda metade do livro, pois a história, que para mim vinha se arrastando, deslanchou em um ritmo frenético que me fez fechar o livro pensando “o que diabos vai acontecer na continuação?”

Não é uma história simples de ser lida, mas também não creio que nem por um segundo este tenha sido o objetivo. Apesar do começo do livro, ele me ganhou por toda a reflexão. A percepção de Germano Pereira ao criar todo esse enredo foi notável. Terminei esse volume com uma visão de que, sim, por mais que tentemos esconder, todos temos um ser interior que nos domina e que dominamos, e foi a primeira vez que vi isso exposto através de um personagem (um, dois, não sei como chamar Gabriel e o Príncipe).

Então, deixo aqui para vocês a recomendação de um livro nacional que merece muito crédito. 


Resenha por: Giulia Alzuguir
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